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[RESENHA] AS AVENTURAS DE NGUNGA - PEPETELA


Sinopse: O Ngunga não ia ser livro. Eu estava no Leste e estava a fazer um levantamento das bases do MPLA, pela primeira vez ia-se saber quantas bases havia, quantos homens havia, quantas armas…eu ia de base em base e ao mesmo tempo acompanhava o ensino, dava uma ajuda aos professores com os manuais de matemática que eram da Ex RDA, demasiado modernos, e os professores tinham dificuldades com eles, comecei também a aperceber-me que os miúdos só tinham os livros da escola para ler o português, conclui que era preciso fazer textos de apoio, é aí que começa o Ngunga. Eram textos muito simples que pouco a pouco se iam tornando mais complexos. Como ainda assim não era suficiente os textos eram traduzidos para Mbunda e depois eu tentava dar-lhes regras gramaticais reescrevendo o Mbunda, assim os miúdos podiam aprender a ler na sua língua e recorrer a ela sempre que tivessem dificuldade nalguma palavra em português. Quando acabei cheguei à conclusão que aquilo era uma estória, dei-lhe um fio condutor e mais tarde decidimos publicá-lo. – É assim que o próprio autor nos conta como surgiram, em livro, as Aventuras de Ngunga.


PEPETELA 59pp DOM QUIXOTE 2002


Terminei agora mesmo de ler as aventuras de um guerrilheiro adolescente de treze anos de idade. As Aventuras de Ngunga, de Pepetela.
O autor traz-nos um corajoso personagem e ingénuo. Uma narrativa histórica com um espaço angolano marcado pelas guerras coloniais, pelas ocupações dos portugueses em território angolano.
A história leva-nos no tempo ao lado de Ngunga, um adolescente de treze anos de idade, órfão, que tão cedo perdeu os pais na guerra e sem ninguém para cuidá-lo apareceu a avó Ntumba que lhe deu abrigo e obrigou as filhas a passarem a dar-lhe comida mas estas resmungavam alegando que trabalhavam para elas e maridos mas pela ordem da mãe cediam. Comida entregue de má vontade nunca é bem-vinda ao estômago, não é? Mas o rapaz insistia pela fome havia no quimbo devido a guerra. Ngunga foi acolhido pelo guerrilheiro Nossa Luta quando Ntumba morreu. Nossa Luta cuidava bem do rapaz que quando este feriu-se, obrigou-o a ir ao camarada socorrista porque Nossa Luta tinha de ir ao combate e tornaria impossível levá-lo ao médico.
Ida que levou dia para chegar e até ser socorrido. No mesmo dia naquele kimbo teria uma festa pelo corte do cordão umbilical de um bebé que tinha nascido e o socorrista sugeriu ao Ngunga, como criança que era, não perderia festas. Gostava de passear, observar os pássaros, a natureza, mas nunca sequer tinha visto uma escola, tinha tido um professor a ensiná-lo a ler.

A festa ao final, Ngunga tinha que ir, mas lembrou-se onde ir se haviam apenas duas pessoas que dele gostavam? Nossa Luta e Imba. Nossa Luta estava distante e Imba era uma criança menor que ela e pouco suportava-lhe pelas imitações que nele fazia.
Decidiu sair e ir à procura de Nossa Luta mesmo o Kimbo em guerra, passava dias e sem comida aparecia velhos em ofertas de abrigos para este servir-lhe nas lavras mas só eram maus tratos que para o rapaz todos adultos eram más pessoas. Só as crianças eram boas. Continuou com a sua viagem de vários dias e os povos admirados com um garoto de treze anos que viajava sozinho, alguns davam-lhe comida e continuava a sua viagem. Quando lhe perguntavam aonde ia, respondia que ia ver onde o rio nasce. Se insistiam respondia querer ver o mundo até que chegou à Secção de Guerrilheiros onde estava Nossa Luta mas a notícia lhe foi péssima. Tinha morrido no combate. O garoto chorava porque todos eram maus e só ele era bom. Ficou sozinho até que o comandante apresentou-lhe ao professor União que se tornaram grande companheiros mas a guerra trouxe-lhe o Luto que ia-lhe transformar num herói sem nome.

Um adolescente apaixonado por outra de treze anos mas o amor impossível trouxe-lhe revolta porque Uassamba era casada. Foi vendida pelos pais a um velho que possuía lavras e mais três mulheres.
A revolta de mudar o mundo matou Ngunga que o povo estava a conhecer como herói, pois matara o chefe da PIDE com a sua própria arma. Ngunga matou o nome e quis desaparecer, mas este foi-se com outro nome. Que nem as árvores, os pássaros, as estrelas sabiam. Nem o narrador dessa bela história. Mas sei que saberás se ledes essas Aventuras de Ngunga.

Uma linda literatura infanto-juvenil para todas as idades. Uma obra nacional de referência.

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